sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Moon in the Bathroom/ Moon falling in the desert

Há sempre histórias que nós adoramos criar. Todos nós pensamos um dia, "Fogo, esta história é maravilhosa". Apesar de nunca a ter estruturado correctamente na minha cabeça, esta história que agora vos apresento é uma dessas histórias. Eu gosto da história, só não tive ainda coragem de a acabar. Já escrevi mais do que ponho aqui hoje, mas olhando agora para o que escrevi cheguei á conclu~soa que apenas estas duas partes se safam. Tentarei, agora num novo espaço, acabar esta história sobre a busca da felicidade.


A lua que entrava pela janela iluminava toda a casa de banho. Conseguiam-se ver um ao outro, mas tentavam desviar os olhares por momentos. Poderia ser vergonha, poderia ser medo, não sabiam ao certo. Todo um conjunto de sentimentos nunca antes sentidos misturados num só espaço entre duas pessoas que não se conheciam. A lua estava cada vez mais alta, mais bela. Toda aquela luz branca parecia acalmá-los um pouco. Sempre que tentavam começar algum tipo de conversa acabavam sempre por se calar ou falar em frases tão curtas que todo o entendimento era perdido. Aquela dor, aquela dor de pensar que o outro se encontrava do outro lado possivelmente a olhar para si, tentando-se esconder da lua para que o outro não o veja. É triste, mete pena, mas eles parecem alimentar-se dessa dor que tanto dizem evitar.A lua está agora no seu auge, bem alta no céu, desencobrindo toda a noite que se tentava esconder. Inevitavelmente viram-se um ao outro, olham para a janela e para a lua que entra agora sem medos pela casa de banho. Podiam ter sentido raiva pela lua, mas mais uma vez sentem o tal medo de que se alimentam tantas vezes desde que se conheceram. Estou á porta da casa de banho à espera que algo aconteça. Olho para o meu amigo, ele baixa a cabeça. Ambos sabemos que nada vai acontecer hoje. O medo que eles sentem, aquele mesmo medo que os alimenta, impossibilita-os de comunicarem. Não conseguiriam começar uma conversa, e mesmo que começassem acabariam a concordar com coisas que nunca concordariam apenas para não ouvir mais a voz do outro. O eco que caminhava nas paredes da casa de banho incomodava-os. Olham por vezes, mas rapidamente viram o olhar.A lua está agora a cair, deixa o seu auge e começa a decadência como em maior parte das coisas desta vida. Quero acreditar que isso é falso, quero apenas observar o deserto, o nada, que a lua continua a iluminar. Uma casa de banho no meio do deserto, um carro parado à porta com as portas abertas, eu à beira da estrada sem ver um único carro passar. O meu amigo senta-se ao meu lado, sente a poeira nas mãos, olha-me nos olhos:- Está na hora de irmos, não podemos fazer mais nada.- Eu sei, pelo menos tentámos.- Partimos sem lhes dizer nada?- Claro.Liguei o carro, olhei para a porta da casa de banho, nem uma única reacção. Podia entristecer, podia ficar desapontado. Chega disso, vamos embora companheiro, o deserto é grande, e, por favor, vai falando comigo.


O barulho do carro parecia ecoar cada vez mais enquanto avançávamos pelo deserto, sozinhos numa estrada que parecia não ter fim. Estou descansado, ela tem fim, tem de ter um fim que, apesar de poder não estar próximo, nós o conseguiremos atingir. Com cuidado avançamos cada vez mais nesta estrada, não temos qualquer tipo de paisagem agradável à nossa volta, tudo se perde com a velocidade do carro que, agora, está a aumentar a grandes passos. Gostava de poder parar novamente, de abrandar um pouco, mas a lembrança daqueles dois não me sai da cabeça. A lembrança de dois seres humanos que tinham perdido a vontade de comunicar com os outros, de terem medo das suas reacções. Tinha-lhes raiva, uma raiva de morte que me fazia pensar varias vezes em voltar para trás e matá-los. Contudo, sou calmo, tenho de ser calmo e esperar que a estrada acabe.A lua parece querer abandonarmos, cai cada vez mais. O meu amigo parece triste também, confuso com tudo o que se tinha passado neste deserto. Vejo-lhe nos olhos o medo de esta noite acabar e de ter de confrontar, possivelmente, aquelas pessoas no dia a dia. Como poderia ele, como poderia eu fazê-lo? Contínuo a conduzir por esta estrada, não há preocupações agora, não pode haver. O deserto parece absorver, ou quer absorver, todas as nossas preocupações:- Podes falar, sabias?- Estou confuso, não esperava que isto acontecesse.- Eu também não. Tentámos ajudar, acho que devemos ter isso em conta.- Sim, tens razão. Como tu dizes, apenas vem quem quer vir, o resto não importa.Sim, eu digo isso. Digo-o porque sinto que só pode ser assim, não sei se foi de experiências passadas ou não, mas acaba por ser assim em tudo o que fazemos. Avisamos, preocupamo-nos, não querem saber, eu também não. Não é isso que faz de mim uma má pessoa, ou pelo menos não me acho uma pessoa má. Realmente, não quero saber disso agora, o deserto não mo permite:- Achas que conseguimos sair desta estrada?- Se te trouxe comigo é porque conseguimos sair daqui, não te quero desapontar.- Acho que não o conseguirias fazer.- Obrigado. Nós temos de nos dar ao luxo de evoluir, de crescer e ver que os outros não o conseguem fazer. É bom ter a iniciativa de não estagnar, sabes? Mais um pouco e atingiremos a felicidade.- Achas que conseguimos?- É esse o motivo desta viagem, pelo menos de agora, atingir a felicidade e evoluir, meu bom amigo.É, agora que temos uma objectivo vamos conseguir desta estrada, deste deserto e caminhar para outra estrada. Lembrei-me de outro bom amigo, acho que seria a altura ideal para o visitar, ele percebe sempre.Vejo agora o final da estrada, a lua está praticamente caída, o sol levanta-se do outro lado. O sono, o sono continuar a parecer tão distante, sinto que poderia não voltar a dormir apenas para aproveitar toda a minha vida:- É o fim do deserto, e agora?- É altura de visitar alguém feliz.