domingo, fevereiro 05, 2006

O Avanço da Humanidade


Se uns dizem que é avanço, eu classifico o percurso da Humanidade como evolução – negativa.
Qual a distância da irracionalidade que leva à renegação do Natural e Essencial?
Vivemos embrenhados numa teia de valores distorcidos, morais contraditórias e incoerentes que nos fazem ser tudo aquilo que não somos.
Contrariar o instinto é humano; contrariar o físico não sei o que será.
Esta necessidade de afastar o estado mais puro, de esconder por trás de máscaras e levar todos os outros a regerem-se pelos mesmos sentimentos impingidos, pré-fabricados torna-se um ciclo vicioso.
Não em jeito de pensamento misantrópico, mas apenas na procura da Razão aquela de que nos dizemos dotados, mas nem por isso estabelecemos como deveria ser – universal), questiono-me se não estaremos mais próximos da verdadeira racionalidade e essência (que não acredito haver para o Homem até deixarmos de viver nestes termos em que vivemos) quanto mais próximos da irracionalidade nos acharmos?
Cumprir o nosso papel é: nascer, crescer, reproduzir e morrer. Não é o de nos arrogar ao direito de submeter outras espécies, nem tão pouco a nossa. Não é nossa função criar uma sociedade – palavra de conotação tão pesada e tamanha complexidade – que vai contra o que de puro (e volto a frisar: verdadeiro) há em nós.
Esta obrigatoriedade de ser assim, este imperativo que nos leva a fazer tudo o que todos fazem, a não conseguir alterar o estado das coisas conduz ao cansaço. O cansaço permanente de ser humano.
Acabamos por sobreviver num meio em que as regras, afinal, foram impostas por nós, mas por nós também são questionadas.
Sobrevivo num meio que não é o meu.
Faço minhas as palavras de Manuel Cruz.

Eu Vim de Outra Esfera.
[Quadro de Margarida Cepêda, O Avanço da Humanidade, 2000]

1 Comments:

At 1:37 da tarde, Blogger Monsieur Bimbô said...

faz o teu meio, quem quiser sobreviver nele, que sobreviva... a tua esfera de longe poderá destruir kuakler outra esfera ;)

 

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