terça-feira, fevereiro 28, 2006

O Funeral

Parece que vai chover. As nuvens carregadas parecem anunciar a altura. Océu cinzento escurece o cemitério, mas não tanto como os fatos e vestidos pretos das pessoas que se reunem à volta de uma campa. Obviamente, falo de um funeral. Umas choram o momento, outras respetiam-no e outras estão ali por estarem. Apenas uma não se percebe o que se sente. Um rapaz, desconhecido, a todos. Atrás de uma árvore ele segura uma flor. Não um daqueles ramos que todos levam, apenas uma flor apanhada do quintal da mãe dele. A sua mãe não sabe ele ali está. Apenas pensa que se encontra na casa de um amigo. O sentimento que transmite, é quase ilegível. Segura a flor com força, como se nunca a fosse largar. O fato preto esconde a camisa também preta com uma gravata igualmente preta. Acho que é o máximo que posso dizer dele. Os olhos são carregados, sem lágrimas. A mão treme, não a que segura a rosa pois essa está firme. A mão que treme tem um papel. Amchucado sim, mas legivel. As pessoas, passado uma hora, seguem o padre para ir embora. Os pais ficam mais um pouco mas também vão embora. A noite já caiu, e só agora a campa está sózinha. Ele sai detrás da árvore com a respiração pesada. Começa a chover e ele avança. Os sapatos começam a mergulhar em poças de lama, desagradáveis. Finalmente se vê a campa. Não sei quem é, tal como não sei quem é ele. Apenas uma foto dela a identifica. Uma foto de cara, bonita, mas nada de especial. Loira e de olhos azuis tinha o seu nome por baixo, que agora não vou dizer. Basta dizer que se podia ver a sua identificação. A chuva batia no meu rosto, mas continuei ali, a ver a situação. Ele pousa a flor na campa e abre a folha a tremer.

-Olá... Não me conheces, mas eu conheço-te.

Estava atrapalhado nas palavras, como se ela ali estivesse a falar com ele.

-Suponho que seja demasiado tarde para ti, mas eu vim aqui porque estou à anos para te dizer uma coisa. Ontem ganhei coragem e fui a tua casa. Falei com o teu pai e ele disse que tinhas sido atropelada e tinhas morrido. Disse-me que se quisesse podia vir ao funeral. Os amigos são bem-vindos como ele disse. Eu disse que não te conhecia bem para vir ao teu fuenral, mas bem... Aqui estou eu... Tinha uma coisa para te dizer e o facto de não te ver não quer dizer que não me estejas a ouvir. Nalgum lado... Eu... escrevi-te uma coisa. No mês passado... Hmm, não me conheces, nunca me viste, mas eu conheço-te desde que me conheço a mim... e pronto.. aqui vai...

Olha para a folha com os olhos molhados e lê com a voz trémula e cuidadosa.

- Quero pedir-te desculpa por só agora me mostrar... Só agora dou noticias, mas a timidez não deveria ser premitida num jovem apaixonado. Peço-te desculpa por... não ter estado quando precisaste ou de não ter dito quando precisei. E precisei de ti, muito mesmo. Precisei de ti para poder dormir, não durmo há semanas. Precisei de ti para me concentrar e para ter alguma vontade de fazer alguma coisa. Até precisei de ti para ter fome. Não como deve de ser há muito tempo. Bem... o objectivo pelo qual te escrevo é para saber se queres encontrar-te comigo. Sei lá, um dia qualquer, não tem que ser agora sabes.. Como amigos... Hmm, fica o convite. Não é a melhor carta que se pode receber mas não tenho jeito para isto.

Agora começava a chorar visivelmente e ajoalhou-se.

-Desculpa amor... Desculpa não ter sido mais rápido... Que raio... (com a mão trémula deu um murro fote na campa, rasgando a pele e deitando sangue)... Se ao menos estivesse lá quando aconteceu.. talvez não tivesses... Merda...

Vi aquilo tudo.. Meteu-me pena. Mas não fiquei ali... Nem o fui confortar. Deixei-o com o sofrimento dele. No dia seguinte, várias manchetes de jornais diziam algo como "rapaz morreu aparentemente de causas naturais emc ima de uma campa. No local encontravam-se duas rosas vermelhas'. Duas. Ele apenas tinha uma... Talvez se tenham encontrado. Lá em cima. Bem... É o que eu gosto de pensar pelo menos...

Talvez se tivesse lá estado... Ele não tivesse morrido.~

VC

2 Comments:

At 1:26 da tarde, Blogger Cátia Rodrigues said...

GANDA POST !


quero escrever assim

* adrt, ate mesmo qdo tas de mau humor ! ;)

 
At 3:54 da tarde, Blogger desentupidor de sanitas said...

Fo shizzle dizzle.
...
Muito bom o post.Muito bom mesmo.Pa nem sei o que dizer a nao ser viva á Covina

 

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