quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Homenagem a alguém imaginário

Andava pelo Parque das Nações, na poste de madeira que rasa o Tejo. Levava o livro do Woody Allen numa mão. Woody Allen é dos poucos autores que me faz pensar à minha maneira. No bolso tinha 10 euros para jantar e no outro o mp3, e o fones nos ouvidos. Ouvia "Wilder Wein" dos Rammstein, musica que sempre adorei, da minha banda preferida. Não pensava em nada, apenas via os teleféricos por cima de mim e o Sol quase a pôr-se. Eram as férias de Verão e não havia pressões, não havia escola, não havia nada que me fizesse nao gostar de estar ali. O Sol não estava muito forte, o que dava uma sensação de ser um dia perfeito. Não havia ninguém ali, daquele lado do Parque. Estavam todos juntos ao écran gigante para ver o Portugal-Inglaterra do Euro. Era por isso que ali esta também. Os meus amigos haviam ido primeiro para ver as exposições, e eu andava ali, sózinho na ponte de madeira. Ouvia algumas pessoas a cantar de fundo o nome de Portugal, mas ouvia mais o barulho dos meus ténis a baterem no chão. Tinha algum calor, a t-shirt colada às costas por causa do suor, mas nem me sentia desconfortável. Andava ali sózinho. Sentei-me num banco a olhar para o rio, consequencia de gostar de alguém tanto a ponto de não tirar da cabeça. Sentei-me sózinho. Abri o livro e comecei a ler. Acabara de ler a primeira página, quando ouço um soluço. Ao pé do parapeito havia uma rapariga a chorar. Tinha um cigarro na mão e fumava com a mão trémula. As lágrimas eram o único defeito na cara perfeita dela. A pintura preta dos olhos estava um bocado manchada. Tentei não ligar, embora tivesse o coração apertado. Continuei a ler. Ou a tentar pelo menos. Não consegui pois fui interrompido.
'Tens cigarros? Os meus acabaram.'
'Não.. Eu não fumo.'
'Ok. Obrigada.'
E voltou para o parapeito. Mais uma vez tentei ler, mas não consegui. Levantei-me e fui ver o rio do parapeito ao lado dela. Ia para falar com ela, mas foi ela que falou primeiro.
'O que achas disto? Do rio?'
'Deste? Feio, sujo e mal cheiroso, e no entanto, olhas para ele como se fosse uma coisa bonita.'
'Não olho para ele. Só aqui estou por estar.'
'Não digas isso. Ninguém está em nenhum sitio por estar.'
'Estava á espera de um amigo meu. Mas ele deve ter-se esquecido para ver o jogo. Conviniente não é? Não vais ver?'
'Vou. Mas ainda falta uma hora para começar. Até lá queria ver se leio isto.'
'Então lê.'
'Não.. Acho que vou ficar a falar contigo. Quer dizer, um livro pode dizer muito mas não responde como uma rapariga.'
'Os rapazes respondem também.'
Sorri e disse. 'Sim, respondemos. Mas não é a mesma coisa. Não me parece que fosse falar do Sol com um rapaz.'
'Eu sei, também tenho um namorado.'
'Também tens? O meu vem ter comigo daqui a uma hora.' Uma piada tão estupida como esta, não deiveria ser motivo de rir, mas pela primeira vez ela sorriu.
'Onde está ele? O teu namorado?'
'Não sei. Não me disse. Apenas me disse que vinha ter comigo para ir-mos ver o jogo.'
'Então, queres esperar?'
'Não te importas? Deves ter alguém à tua espera.'
'Ah, eu não tenho tanta sorte como tu no que toca a companhia, sabes. Tenho o trsite hábito de estragar tudo.'
'Não... Simplesmente ainda não descobriste uma pessoa que "estrague" tudo contigo.'
'É bom pensar assim. Talvez um dia encontre.'
'Talvez? Claro que encontras. Todos nós os encontramos. O amor está em saber se vemos essa pessoa ou não.'
'É uma boa teoria. Sabes, és a pessoa mais intressante que conheci em 8 minutos. Todas as outras apenas falam de merda, por assim dizer.'
'È? Sim, de facto as pessoas têm jeito para não falar umas com as outras.' Olhamo-nos durante 2 segundos e desviamos o olhar. Ela olha para o Rio, eu olho para o rapaz que se aproxima.
'Olá Rui. Vamos agora ver o jogo?' pergunta ela.
'Vamos. Tás bem?'
'Sim, encontrei alguém com quem falar. Bem tenho que ir. Gostei muito de falar contigo.'
'Adeus, também gostei de falar contigo.'
Eles afastam-se, e ela volta-se e volta.
'Queres um mail ou o meu número? É bom ter alguém para falar de vez em quando.'
'Não quero. Pessoas raras devem ser procuradas uma e outra vez. De certeza que nos vemos por ai. Se não nos virmos, então foi porque o destino nos guardou para outras pessoas.'
Ela sorriu, e foi embora.

Nunca mais a vi...

Este texto não é baseado em factos reais. A única coisa que fiz durante o Portugal-Inglaterra foi beber cerveja e ver o jogo. Fiquei rouco. lol. Mas acho que é bom pensar nestas coisas.
É sempre bom ter alguém em quem pensar, ainda que imaginário. Não é?
O titulo é giro.

VC

Eu teria gostada de qualquer coisa que escrevesses ;) mas tu e que sabes

2 Comments:

At 12:50 da tarde, Blogger desentupidor de sanitas said...

Ve-se lgo k é falso.TUDO O K DIZES É FALSO!AAAAAAAH!BAU!TOMA!


Mas ta interessante ate pk n tem nd haver com os posteriores

 
At 1:33 da tarde, Blogger Cátia Rodrigues said...

é bom termos um amigo imaginário.
E gosto muito do texto.
eu tinha um amigo imaginário, mas acho q já morreu, cmo ng acreditava nele, eu tmb deixei de acreditar e o coitado morria.
Mas é bom..

Adrt GA **

 

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